Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
Na vida.
ARLEQUIM: Dize: Queres-me bem?
…
PIERROT: Fala: gostas de mim?
…
COLOMBINA, hesitante:
A Pierrot:
Eu amo-te , Pierrot…
A Arlequim:
… Desejo-te, Arlequim…
ARLEQUIM, soturnamente:
A vida é singular! Bem ridícula, em suma… Uma só, ama dois… e dois amam só uma!..
COLOMBINA, sorrindo e tomando ambos pela mão:
Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:
A Arlequim:
O teu beijo é tão quente...
A Pierrot:
O teu sonho é tão manso...
Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma! Quando tenho Arlequim, quero Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu... outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar, e em verdade toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente,
porque a história do amor pode escrever-se assim:
Um sonho de Pierrot...
ARLEQUIM:
E um beijo de Arlequim!
(Vi no wordpress "o avesso do espelho")