domingo, 15 de abril de 2012

O Silêncio.

(Mulher entrando no quarto. Homem já está dentro, sentado na cama, se preparando para dormir. Ele está de costas e ela se senta também para se preparar.)

- Oi. Desculpe pela briga ontem. Tava meio estressada. Foi aquele meu chefe, ele não parava de me encher, acho que ele vai me demitir. Mas deixa pra lá, acho que vai ser bom. Que acha de fazermos uma viajem? Seu emprego é bem diferente do meu, dá pra tirar uns dias de folga. Queria ir pra algum lugar frio, o que acha? A gente usava aquele dinheiro da poupança. A gente não tá guardando pra nada mesmo... E aí eu usaria aquele casaco colorido que a sua irmã me deu de aniversário. Nunca usei ele. Nunca faz muito frio por aqui. Aquele casaco é muito quente pra usar por aqui... Outra coisa, tava falando com minha amiga ontem, ela disse que viu um filme muito bom no cinema, estreou agora. Eu sei que a gente não vai muito pra cinema, na verdade quase nunca, mas eu realmente acho que vai ser uma boa, eu sei o quanto você gosta de filmes e além do mais o filme é legendado. Você sabe que eu não gosto de filme dublado, é muito ruim. A gente podia ir comprar as passagens de avião e na volta, ir no cinema! O que me fez lembrar que semana que vem você tem que ir ver o Dr. Eduardo, pra fazer aquele exame, lembra? Ficamos um tempão pra conseguir agendar. A gente pode adiar a nossa viagem um pouquinho, então... Primeiro a sua saúde, né? Eu sei que não conversamos muito, meu amor, mas eu quero que saiba que eu sempre penso em você, em como você está, se precisa de alguma coisa... Eu te amo muito, viu? Amo como você é carinhoso, amigo, companheiro e paciente comigo. (Dá a volta na cama, dá um beijo na testa dele)

-O que foi, Vera? Você estava muito pensativa agora à pouco. Aconteceu alguma coisa? (...) Não precisa ficar chateada, eu já te perdoei sobre ontem. Provavelmente aquele chefe seu deve ter enchido sua paciência de novo. (...) Ah, sabia... Porque não sai daquele emprego? Podíamos viajar, conhecer algum lugar diferente, já que meu emprego é mais maleável. Um lugar frio, como você gosta, o que acha? (...) Sabia que ia gostar da idéia! (...) É verdade, já ia me esquecendo da consulta! Poderíamos ir depois dela então, já que não posso adiar, afinal, ficamos um tempão pra marcar. E eu posso te levar antes no cinema... Eu sei que você não gosta (...) Esse filme mesmo! O Marcos me contou sobre ele! Eu sei que fica difícil de ler os lábios, mas o filme é legendado. (...) Então está combinado! Aí a gente aproveita e compra a passagem também. Nós precisamos mesmo de um tempinho juntos, só nós dois. Estou com saudade de você do meu lado um dia inteirinho. Eu amo você, minha Vera.

(Ele a beija e ela sorri. Eles se deitam e se abraçam para dormir. As luzes se apagam.)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O que você quer ser quando crescer?

Faz uns dias que noto meu enorme entusiasmo com o teatro.
Já tinha percebido também que se tornou muito importante pra mim. Nunca tinha parado pra pensar no que eu gostaria de trabalhar na minha vida. Quando me perguntavam quando criança "O que você quer ser quando crescer?" eu respondia "Atriz!". Mas depois de grande eu notei que falar algo assim não era bom.
O certo é dizer "Advogada" ou "Engenheira". Qualquer coisa, menos atriz! "Sem diploma e um emprego estável, você não vai conseguir ser independente! Os adultos têm que fazer coisas que não querem para ter uma vida confortável!"
Às vezes eu paro pra pensar: E se eu não quiser ter uma vida confortável? E se eu quiser passar a vida trabalhando em algo que me dê o mínimo de sustento e trabalhar no que eu realmente quero? Teatro! Me pareceu tão estranho, o começo...
Eu tinha 17 e entrei só porque minha melhor amiga já fazia parte. Ia só porque ela estava lá, fora a parte de ficar no teatro, que era muito legal. Fingir que eu era outra pessoa, mesmo dando vergonha, era empolgante!
Mas faltava muito, pois por mais que fosse legal encontrar minha amiga todo domingo, era muito chato ficar em papel pequeno, não ter falas. Afinal de contas, era só bobeira, um hobby que eu fazia pra ajudar o pessoal de teatro. E ainda era de graça, não era como se eu estivesse tendo aula de verdade, só ficávamos ensaiando toda semana!
Uns dias atrás uma menina que está a bem menos tempo que eu na Companhia disse que tinha vontade de sair. Ninguém dava uma oportunidade pra ela de fazer um papel grande, ela se sentia de fora porque tinha muita panelinha e ela não conseguia fazer amizade, por isso faltava muito. Estava desmotivada.
Lembrei de mim. Na época que me senti desmotivada e não fazia nada pra ajudar, faltava pra sair com meus amigos, ninguém me avisava de nada e eu me sentia por fora. E não me lembro de sequer uma vez pensar em sair. Porque apesar de tudo, havia alguma coisa que me prendia. E com a passagem dos anos eu compreendo que não posso viver sem isso. Estou totalmente entregue à arte.
"Ah, dêem-me um texto, uma obra verdadeiramente literária, um palco e uma plateia... Nada mais, nada mais é preciso para um ator." Já não é mais o hobby do fim de semana. Tudo se inverteu. O teatro do fim de semana virou o trabalho e o trabalho durante a semana é a forma de sustento enquanto não consigo viver de arte.
"Luzes, efeitos, expressão
Sons, cores, fumaça.
Cenário, atores, público
A arte."
É o lugar onde me sinto viva. Onde me encontro, me compreendo. Onde me deixo sentir.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pensamento sem fim.

Não parava pra pensar fazia tempo. Quem pararia pra pensar num mundo onde tudo é entregue já pensado por você? Não sabe o que fazer, pergunta pro google.
Parava pra pensar a cada segundo e escrevia até a mão doer, mas depois de um tempo a gente vai parando, parando...
Os sentimentos dentro do peito vão ficando comprimidos até você esquecer que eles estão ali.
A enorme carência já não é mais tão incômoda assim.
Ai o tempo parou. Voltei pra época que eu não fazia nada e percebi que perdi a mania de escrever qualquer coisinha boba que vinha na cabeça. Qualquer estória de amor boba.
Não sei se pela falta de sair todos os dias para trabalhar e não pensar em nada o dia inteiro, em ter que fazer o dever de casa, arrumar a casa, sair para sociabilizar, viver a vida como uma pessoa da sociedade ou se foi por me descobrir em contato com meus sentimentos num palco, mas me sinto transbordada, sufocada, sensível de tal forma que soluçar perto de mim me lança à um estado quase desesperado de choro e emoção tal, que acho que nem eu me aguento.
Nunca me senti assim antes. Nessa necessidade quase absurda de sentir, tocar, provar, ouvir, falar, rir. Ser livre. Sentir que estou afundando num mar de sentimentos. Correr gritando na chuva e sentir as lágrimas se fundirem com as gotas. Rolar na grama. Pular do alto de uma pedra na água e fingir que estou voando. Rir alto. Gritar de alegria. Dar as mãos e correr o mais rápido possível. Escrever.